CAROLINA VENDIMIATI
Resenha do documentário com Pierre Levy, "As Formas do Saber"
O documentário “As Formas do Saber” propõe, através da entrevista com o filosofo Pierre Levy, a reflexão acerca do homem como individuo revolucionário, não só por sua ação, mas também através de suas criações.
A entrevista é historicamente posicionada na realidade dos anos 90, quando a internet e o computador pessoal começavam sua popularização. Entretanto sua abordagem continua atual. Se no português computador é a máquina que calcula, computa e armazena os dados, o ordinateur, do latim ordenator, é aquele que organiza, põe em ordem os dados disponíveis. Levy propõe-nos pensar no computador como a inteligência humana aumentada e a nosso serviço, não um objeto capaz de afastar dos seres humanos uns dos outros.
Primeiramente, o filosofo tratou do computador, que era uma máquina acessível apenas a empresas, órgãos do governo e só começou a ser popularizado após a criação do computador pessoal ( o PC- personal computer). Em pouco tempo, os computadores pessoais dominaram o mercado da informática, surpreendendo as expectativas da época. A revolução da internet alcançou tal dimensão que fez seus usuários possuidores de mais poder de influência que ativistas políticos.
A internet potencializou o poder revolucionário da informática, tornando-se a própria revolução. A revolução da internet foi um movimento social, associado a juventude interessada em novas formas de comunicação. O poder das formas de comunicação é tal que didaticamente usamos a criação da escrita como elemento limítrofe do fim da Pré-história e início da Antiguidade. Pierre Levy relaciona a invenção do alfabeto grego com o surgimento da democracia na Grécia. No seu ponto de vista, o alfabeto “democratizou” a alfabetização, privilegio exclusivo das classes privilegiadas da sociedade. Logo, caso haja qualquer tipo de controle do conteúdo na internet, seja pelo governo ou órgãos privados, haverá controle da liberdade de comunicação e, automaticamente da livre expressão. Isso tornaria a democracia impossível, porque democracia é impossível sem a comunicação livre.
Porém toda revolução gera medo em parte da sociedade. A humanidade é marcada pela revolução causada pela invenção. A agricultura, a domesticação de animais, a escrita e até o papel são invenções extremamente importantes para a história humana e atualmente são tratadas com naturalidade. O medo associado a transformação da comunicação causada pela internet está no possível isolamento de indivíduos que, devido as facilidades geradas pela rede, seria desnecessário o deslocamento.
Essas previsões, porém, podem ser facilmente errôneas. Com o avanço dos computadores e a criação da impressora, imaginava-se que haveria a diminuição do gasto de folhas de papel, pois o arquivo digitai seria o substituto do documento físico. O papel, diferentemente do conhecido, é uma invenção recente no mundo ocidental. O resultado da tecnologia de impressão é o aumento do uso do papel, devido as facilidades de maquinas de impressão a lazer, cuja impressão é extremamente rápida e gera o desperdício, pois a dificuldade de produzir documentos datilografados tornava o uso mais controlado e responsável.
Ao contrário do previsto, as novas formas de comunicação surpreenderam novamente as expectativas e aumentaram os números de contatos, relações e os usuários mais ativos viajam mais que pessoas que usam menos a internet. O turismo é um grande mercado e mantem-se em expansão. A migração de mão de obra, de conhecimento, viagens de negócio são provas que nunca houve na história da humanidade tantos deslocamentos.
Pierre Levy nasceu na Tunisia em 1956, é naturalizado francês e foi um dos primeiros pensadores da área da cibernética.